terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Palavra de Vida de Janeiro de 2014

Paulo chegou a Corinto no ano 50. Era uma grande cidade da Grécia, famosa pelo importante porto comercial e muito animada devido às suas numerosas correntes de pensamento. Ali, durante 18 meses, o Apóstolo anunciou o Evangelho e lançou as bases de uma florescente comunidade cristã. Depois dele, outros continuaram a obra de evangelização. Mas os novos cristãos corriam o risco de apegar-se aos portadores da mensagem de Cristo, mais do que ao próprio Cristo. E assim nasciam as facções: “Eu sou de Paulo”, diziam alguns; e outros, referindo-se sempre ao apóstolo de sua preferência: “Eu sou de Apolo”, ou então: “Eu sou de Pedro”.
Diante da divisão que inquietava a comunidade, Paulo, comparando a Igreja a uma construção, a um templo, afirma com força que os construtores podem ser muitos, mas um só é o fundamento, a pedra viva: Cristo Jesus.
Sobretudo neste mês, no qual em muitos países se celebra a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos2, as Igrejas e as comunidades eclesiais recordam juntas que Cristo é seuúnico fundamento e que, somente aderindo a Ele e vivendo o seu Evangelho – que é único –, elas podem encontrar a unidade plena e visível entre si.
“Cristo, único fundamento da Igreja
Alicerçar a nossa vida em Cristo significa ser uma só coisa com Ele, pensar como Ele pensa, querer aquilo que Ele quer, viver como Ele viveu.
Mas, como podemos nos alicerçar Nele, enraizar-nos Nele? Como podemos nos tornar uma só coisa com Ele?
Colocando em prática o Evangelho.
Jesus é o Verbo, ou seja, a Palavra de Deus que se fez carne. E se Ele é a Palavra que assumiu a natureza humana, nós seremos verdadeiros cristãos se formos homens e mulheres que moldam inteiramente a própria vida de acordo com a Palavra de Deus.
Se nós vivemos as suas palavras, ou melhor ainda, se as suas palavras vivem em nós até o ponto de nos transformar em “Palavras vivas”, somos um com Ele, estreitamo-nos a Ele; não vive mais o “eu” ou o “nós”, mas em todos vive a Palavra. Isso nos permite pensar que, vivendo assim, daremos uma contribuição para que a unidade entre todos os cristãos se torne uma realidade.
Assim como o corpo respira para viver, da mesma forma a alma, para viver, põe em prática a Palavra de Deus.
Um dos primeiros efeitos disso é o nascimento de Jesus em nós e entre nós, o que provoca uma mudança de mentalidade: injeta no coração de todos, quer sejam europeus ou asiáticos, ou australianos, ou americanos, ou africanos, os mesmos sentimentos de Cristo diante das circunstâncias, de cada pessoa, da sociedade.
[...] A Palavra vivida nos torna livres dos condicionamentos humanos, gera alegria, paz, simplicidade, plenitude de vida, luz. Fazendo-nos aderir a Cristo, transforma-nos pouco a pouco em outros Cristo.
“Cristo, único fundamento da Igreja”
Mas existe uma Palavra que resume todas as outras: é amar. Amar a Deus e ao próximo. Nessa Palavra Jesus sintetiza “toda a Lei e os Profetas” (cf. Mt 22,40).
O fato é este: cada Palavra, embora sendo expressa em termos humanos e diversificados, é Palavra de Deus; e uma vez que Deus é Amor, cada Palavra é amor, é caridade.
Como viveremos, então, neste mês? Como podemos estreitar-nos a Cristo, “único fundamento da Igreja”? Amando da forma como Ele nos ensinou.
“Ama e faze o que queres” (in Jo. Ep. tr., 7,8) disse santo Agostinho, como que sintetizando a norma de vida evangélica; pois quem ama não erra, mas cumpre plenamente a vontade de Deus.
Chiara Lubich

1) 1Cor3,11: “De fato, ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que já está colocado: Jesus Cristo.”
2) Em diversas partes do mundo, os cristãos celebram a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 18 a 25 de janeiro. No Brasil, ela é celebrada entre a Ascensão e Pentecostes (em 2014 será de 1º a 8 de junho). Este ano a frase bíblica escolhida como lema é: “Será que Cristo está dividido?” (1Cor 1,13). A Palavra de Vida de janeiro se enquadra nessa mesma perspectiva.
Este comentário à Palavra de Vida foi publicado originalmente em janeiro de 2005.
www.focolare.org

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Palavra de Vida de Dezembro

Esta é uma daquelas expressões, familiares ao apóstolo Paulo, que exprimem o seu desejo e, ao mesmo tempo, um pedido ao Senhor, de graças especiais para as suas comunidades (cf. Ef 3,16; Fl 1,9 etc.).
Nesse trecho ele pede, em favor dos tessalonicenses, a graça de um amor recíproco cada vez maior, superabundante. Não se trata de uma censura velada, como se o amor mútuo não existisse naquela comunidade; ele chama a atenção para uma lei inerente ao amor em si mesmo: a lei de um crescimento constante.
“O Senhor vos faça crescer abundantemente no amor de uns para com os outros e para com todos.”
Uma vez que o amor é o centro da vida cristã, se ele não apresentar um progresso, toda a vida do cristão sofrerá as consequências, esmorecendo e podendo até se apagar.
Não basta ter entendido de modo luminoso o mandamento do amor ao próximo, nem sequer basta ter experimentado de modo entusiástico seus impulsos e seus ímpetos, no início da própria conversão ao Evangelho. É necessário fazê-lo crescer, mantendo-o sempre vivo, ativo, operante. E isso acontece quando se sabe aproveitar, com prontidão e generosidade cada vez maior, as diversas ocasiões que a vida nos oferece a cada dia.  
“O Senhor vos faça crescer abundantemente no amor de uns para com os outros e para com todos.”
Para Paulo, as comunidades cristãs deveriam ter a jovialidade e o calor de uma verdadeira família.
Compreende-se, portanto, a intenção do apóstolo, de alertá-las contra os perigos que mais frequentemente as ameaçam: o individualismo, a superficialidade, a mediocridade.
Paulo, porém, quer evitar também outro grave perigo, intimamente associado ao anterior: que os cristãos se acomodem numa vida organizada e tranquila, mas fechada em si mesma.
Ele deseja ver comunidades abertas, pois uma qualidade própria da caridade é amar os irmãos na fé e, ao mesmo tempo, ir ao encontro de todos, sensibilizar-se com os problemas e as necessidades de todos. É uma característica da caridade saber acolher qualquer pessoa, lançar pontes, descobrindo o que há de positivo e unindo-se, nos próprios desejos e esforços de realizar o bem, com todos aqueles que apresentam boa vontade.
“O Senhor vos faça crescer abundantemente no amor de uns para com os outros e para com todos.”
Como viveremos, então, a Palavra de Vida deste mês? Procurando, também nós, crescer no amor mútuo dentro das nossas famílias, do nosso ambiente de trabalho, das nossas comunidades ou associações eclesiais, paróquias etc.
Essa Palavra exige de nós uma caridade superabundante, isto é, uma caridade que saiba ultrapassar as meias-medidas e as diversas barreiras provenientes do nosso tão sutil egoísmo. Poderemos descobrir muitas ocasiões de vivê-la. Basta pensar em certos aspectos da caridade como a tolerância, a compreensão, a aceitação recíproca, a paciência, a disponibilidade para servir, a misericórdia diante das faltas verdadeiras ou supostas do nosso próximo, a partilha dos bens materiais etc.
Também é evidente que, se em nossa comunidade existir esse clima de amor mútuo, ele inevitavelmente irradiará o seu calor em direção a todos os outros. Também aqueles que ainda não conhecem a vida cristã vão se sentir atraídos e é bem possível que, quase sem o perceber, eles sejam envolvidos nessa vida até sentirem-se parte de uma mesma família.
Chiara Lubich
 Este comentário à Palavra de Vida foi publicado originalmente em novembro de 1994.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Palavra de Vida do mês de Novembro

“Sede bondosos e compassivos, uns para com os outros, perdoando-vos mutuamente, como Deus vos perdoou em Cristo.” (Ef 4,32)

É um programa de vida concreto e essencial. Só ele já bastaria para criar uma sociedade diferente, mais fraterna, mais solidária. Ele faz parte de um amplo projeto que o Apóstolo Paulo propõe aos cristãos da Ásia Menor.
Naquela comunidade foi alcançada a “paz” entre judeus e gentios, os dois povos até então divididos que representavam a humanidade.
A unidade, doada por Cristo, deve ser sempre reavivada e traduzida em comportamentos sociais concretos, inteiramente inspirados pelo amor mútuo. Daí as indicações de Paulo sobre o fundamento das nossas relações:
Sede bondosos e compassivos, uns para com os outros, perdoando-vos mutuamente, como Deus vos perdoou em Cristo.
“Sede bondosos…”: benevolência, querer o bem do outro. É “fazer-nos um” com ele, aproximar-nos dele estando completamente vazios de nós mesmos, dos nossos interesses, das nossas ideias, dos muitos preconceitos que ofuscam nosso olhar, para tomar sobre nós seus pesos, suas necessidades, seus sofrimentos, para compartilhar suas alegrias.
É entrar no coração daqueles que encontramos para entender sua mentalidade, sua cultura, suas tradições e, de certo modo, fazê-las nossas; para entender realmente aquilo de que eles precisam e saber colher os valores que Deus espalhou no coração de cada pessoa. Numa palavra: viver por quem está ao nosso lado.
“Sede compassivos…”: a compaixão. Acolher o outro tal como ele é, não como gostaríamos que fosse: com um temperamento diferente, com as mesmas ideias políticas nossas, com as nossas convicções religiosas e sem os tais defeitos ou modos de fazer que tanto nos incomodam. Não. É preciso dilatar o coração e torná-lo capaz de acolher a todos na sua diversidade, nos seus limites e misérias.
“… perdoando-vos mutuamente…”: o perdão. Ver o outro sempre novo. Mesmo nas convivências mais agradáveis e serenas, na família, na escola, no trabalho, nunca faltam momentos de atrito, de divergências, de conflitos. Às vezes se deixa de falar um com o outro, ou a evitar-se, isso quando não se estabelece no coração um verdadeiro ódio contra os que têm um ponto de vista diferente do nosso. A conquista mais forte e exigente é procurar ver cada dia o irmão e a irmã como se fossem novos, novíssimos, esquecendo completamente as ofensas recebidas e cobrindo tudo com o amor, com uma anistia total do nosso coração, imitando dessa forma Deus, que perdoa e esquece.
E enfim, alcançamos a paz verdadeira e a unidade quando vivemos a bondade, a compaixão e o perdão não apenas como pessoas isoladamente, mas em conjunto, na reciprocidade.
E assim como acontece numa fogueira, onde as brasas são sufocadas pela cinza se não forem remexidas de vez em quando, da mesma forma as nossas relações com todos os outros são sufocadas pela cinza da indiferença, da apatia, do egoísmo, se não houver o esforço de reavivá-las de tempo em tempo, o esforço de reavivar o amor mútuo.
Sede bondosos e compassivos, uns para com os outros, perdoando-vos mutuamente, como Deus vos perdoou em Cristo.
Essas atitudes precisam ser traduzidas em fatos, em ações concretas.
O próprio Jesus demonstrou o que é o amor quando curou os doentes, quando saciou a fome das multidões, quando ressuscitou os mortos, quando lavou os pés dos discípulos. Fatos, fatos: amar é isso.
Lembro-me de uma mãe de família africana: viu a própria filha Rosângela perder um dos olhos, como vítima da agressividade de um garoto que a feriu com um pedaço de pau, e ainda continuava caçoando dela. Nem o pai nem a mãe do menino tinham pedido desculpas pelo acontecido. O silêncio, a falta de relacionamento com essa família a deixavam amargurada. “Fique tranquila”, dizia Rosângela, que já tinha perdoado, “ainda tive sorte: pelo menos posso ver com o outro olho!”
“Um dia, de manhã,” conta a mãe de Rosângela, “a mãe daquele garoto mandou me chamar porque estava passando mal. A minha primeira reação foi: ‘Olha só! Ela tem tantos outros vizinhos, e agora vem pedir ajuda a mim, depois de tudo o que o filho dela fez conosco!’
Mas na hora me lembrei que o amor não tem barreiras. Corri até a sua casa. Ela abriu a porta e desmaiou nos meus braços. Levei-a para o hospital e fiquei lá até que os médicos a atendessem. Depois de uma semana, quando ela teve alta, veio até em casa para me agradecer. Eu a acolhi de todo o coração. Consegui perdoá-la. Agora o relacionamento se recompôs. Ou melhor, começou totalmente novo”.
Podemos preencher também o nosso dia com serviços concretos, humildes e inteligentes, expressões do nosso amor. Veremos crescer ao nosso redor a fraternidade e a paz.
Chiara Lubich


  Este comentário à Palavra de Vida foi publicado originalmente em agosto de 2006.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Palavra de Vida de Setembro

Palavra de Vida – setembro de 2013

“Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (1Jo 3,18)

Quem escreve é João evangelista. Ele põe as suas comunidades de sobreaviso contra algumas pessoas, que com suas palavras exaltavam a fé em Jesus, mas não confirmavam com obras concretas essa fé. Pelo contrário: elas consideravam essas obras inúteis ou supérfluas, como se Jesus já tivesse completado tudo. Assim, a fé dessas pessoas era vazia e estéril, porque deixava faltar na obra de Jesus a contribuição indispensável que Ele pede a cada um de nós.

“Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!”

Amar com as ações! A fé verdadeira – diz o Apóstolo – é aquela que mostra sua autenticidade amando como Jesus amou e nos ensinou. Ora, a primeira característica desse amor é ser concreto. Jesus não nos amou com um palavreado bonito, mas passou no nosso meio fazendo o bem, curando a todos, oferecendo a maior disponibilidade a todos que o procuravam, a começar pelos mais fracos, pelos mais pobres, pelos mais marginalizados, e dando a sua vida por nós.

“Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!”

Além disso, acrescenta o Apóstolo, devemos amar não só com as ações, mas também de acordo com a verdade. O amor cristão, enquanto procura expressar-se em ações concretas, tem a preocupação de inspirar-se na verdade do amor que se encontra em Jesus. Preocupa-se em fazer obras que estejam de acordo com seus sentimentos e seus ensinamentos. Isto é: trata-se de amar segundo a linha e na medida que Jesus nos mostrou.

“Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!”

Como viveremos, então, a Palavra de Vida deste mês? A sua mensagem é clara, até demais. Ela reconduz àquela autenticidade cristã sobre a qual Jesus tanto insistiu. Mas, não é essa também a grande expectativa do mundo? Por acaso não é verdade que o mundo de hoje quer ver pessoas que sejam testemunhas do amor de Jesus?
Então amemos com as ações e não com as palavras, a começar pelos serviços humildes que nos são solicitados dia após dia pelos próximos que estão ao nosso lado.
E amemos na verdade. Jesus sempre agia segundo a vontade do Pai; da mesma forma também nós devemos agir sempre em consonância com a palavra de Jesus. Ele quer que reconheçamos a presença Dele mesmo, por trás de cada próximo. Com efeito, tudo o que fazemos por qualquer pessoa Ele o considera feito a si. E ainda: Ele quer que amemos os outros realmente como a nós mesmos, e que nos amemos entre nós estando prontos a dar a vida um pelo outro.
Portanto, amemos dessa forma para sermos, também nós, instrumentos de Jesus para a salvação do mundo.
Chiara Lubich 



Este comentário à Palavra de Vida foi publicado originalmente em maio de 1988.
www.focolare.org 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Projeto Fortes sem Violência: GenRosso e Fazenda da Esperança


PALAVRA DE VIDA – MAIO DE 2013


“Dai, e vos será dado; recebereis uma medida boa, calcada, sacudida, transbordante.” (Lc 6, 38)


Nunca lhe aconteceu receber um presente de um amigo e sentir a necessidade de retribuir? Retribuir, não tanto por obrigação, mas por um verdadeiro amor, cheio de gratidão? Provavelmente sim.
Se isto acontece com você, imagine então com Deus, com Deus que é Amor. Ele retribui sempre todo bem que fazemos ao nosso próximo em seu nome. É uma experiência que os cristãos verdadeiros fazem constantemente. E sempre é uma surpresa. Nunca nos acostumamos com a criatividade de Deus. Poderia citar mil, dez mil exemplos, poderia escrever um livro a este respeito. Você veria como é verdadeira a imagem evocada pela frase: “Recebereis uma medida boa, calcada, sacudida, transbordante”, para explicar a bondade de Deus, a abundância com que ele retribui.
“Já anoitecera em Roma. E, num minúsculo apartamento, um pequeno grupo de moças que procuravam viver o Evangelho – eram os primeiros tempos do Movimento – preparava-se para dormir. Nesse momento toca a campainha. Quem seria àquelas horas? Um senhor estava à porta, em pânico, desesperado: no dia seguinte seria despejado de sua casa, com toda a família, porque não podia pagar o aluguel. As jovens se entreolharam e, de comum acordo, abriram a gaveta onde guardavam o que tinha sobrado de seus ordenados. Deram tudo àquele homem, sem raciocinar. Naquela noite dormiram felizes. Alguém haveria de pensar nelas.
Mas, ainda não despontou o dia e já toca o telefone. ‘Estou indo até aí de táxi’ – era a voz daquele homem.
Estranhando por ele vir de táxi, as moças esperam. O rosto do hóspede revela que alguma coisa havia mudado: ‘Ontem à noite, logo que cheguei em casa, me entregaram uma pequena herança que eu nem sonhava receber. O coração me diz que devo dar a metade para vocês’. A importância correspondia exatamente ao dobro daquilo que elas generosamente haviam doado”.


“Dai, e vos será dado; recebereis uma medida boa, calcada, sacudida, transbordante.”

E você, já fez essa experiência? Se ainda não, lembre-se de que é preciso doar desinteressadamente, sem esperar nada em troca, a quem quer que lhe peça algo.
Experimente. Não para ver o resultado, mas porque você ama a Deus.
Você poderá dizer: mas eu não tenho nada.
Não é verdade. Se quisermos, temos verdadeiros tesouros: o nosso tempo livre, o nosso coração, o nosso sorriso, o nosso conselho, a nossa cultura, a nossa paz, a nossa palavra para convencer aquele que tem bens a partilhá-los com os que não têm...
Você poderá replicar: mas não sei a quem doar. Olhe ao seu redor: você se lembra daquele doente no hospital, daquela mulher, viúva, sempre sozinha, daquele colega tão desanimado porque não se saiu bem na escola, daquele jovem desempregado sempre triste, do irmãozinho que precisa de ajuda, daquele amigo na prisão, daquele aprendiz inseguro? É neles que Cristo espera você.
Assuma o comportamento novo do cristão – do qual o Evangelho está todo impregnado – que é o “antifechamento”. Renuncie a colocar a sua segurança nos bens da terra e apoie-se em Deus. É assim que você mostrará a sua fé nele, a qual logo será confirmada pela retribuição que chegará às suas mãos.
E é lógico que Deus não se comporta assim para enriquecê-lo ou para nos enriquecer. Ele o faz para que outros, muitos outros, vendo os pequenos milagres do nosso dar, façam o mesmo.
Deus faz assim porque, quanto mais tivermos, mais poderemos dar. A fim de que, como verdadeiros administradores dos bens de Deus, façamos circular tudo na comunidade ao nosso redor, até que se possa dizer a nosso respeito o que se dizia da primeira comunidade de Jerusalém: “Não havia nenhum indigente entre eles”. Você não sente que desse modo contribui a dar um espírito autêntico à revolução social que o mundo espera?
“Dai e vos será dado”. Certamente Jesus pensava em primeiro lugar na recompensa que teremos no paraíso; mas tudo o que acontece nessa terra já é um prelúdio e uma garantia disso.
Chiara Lubich


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Palavra de Vida – Abril de 2013


«Irmãos, não vos queixeis uns dos outros» (Tg 5, 9).

Para compreender melhor a Palavra de Vida que nos é proposta este mês, é necessário recordar as circunstâncias que a motivaram. Verificavam-se alguns atritos nas comunidades cristãs às quais é dirigida a Carta do apóstolo Tiago. Tratava-se de escândalos, de discriminações sociais, de um uso egoísta da riqueza, da exploração dos operários, de uma fé feita mais de palavras do que de obras, etc. Tudo isto dava origem a ressentimentos e críticas de uns contra os outros, criando um clima de mal-estar em toda a comunidade.

«Irmãos, não vos queixeis uns dos outros».

Portanto, já no tempo dos apóstolos se notava aquilo que também hoje se vê nas nossas comunidades. Os maiores obstáculos para praticar a nossa fé muitas vezes não vêm de fora, ou seja, do mundo, mas nascem internamente, de certas situações na própria comunidade e de comportamentos dos nossos irmãos não conformes ao ideal cristão. E isto provoca uma sensação de mal-estar, de desconfiança e de desânimo.

«Irmãos, não vos queixeis uns dos outros».

Todavia, se todas estas contradições e incoerências, mais ou menos graves, têm a sua raiz numa fé nem sempre iluminada e num amor a Deus e ao próximo ainda muito imperfeito, a primeira reação do cristão não deverá ser a impaciência e a intransigência, mas deve ser aquela que Jesus ensina. Ele pede uma espera paciente, a compreensão e a misericórdia, que favorece o desenvolvimento da semente de Bem que foi plantada em nós, como explica a parábola do trigo e do joio (Mt 13, 24-30.36-43).

«Irmãs, não vos queixeis uns dos outros».

Como viver, então, a Palavra de Vida deste mês? Ela coloca-nos diante de um aspeto difícil da vida cristã. Também nós fazemos parte de várias comunidades (a família, a paróquia, a associação, o ambiente de trabalho, a comunidade civil), onde infelizmente podem existir muitas coisas que a nosso ver não estão certas: temperamentos, modos de ver, comportamentos de pessoas, incoerências que nos fazem sofrer e suscitam em nós reações de rejeição.
Temos, então, muitas ocasiões para viver bem a Palavra de Vida deste mês. Em vez da murmuração ou da condenação – como seríamos tentados a fazer –, usaremos a tolerância e a compreensão. Depois, dentro do possível, também a correção fraterna. E, sobretudo, daremos um testemunho cristão, respondendo às eventuais faltas de amor ou de empenho, com um maior amor e empenho da nossa parte.                                                                                                
Chiara Lubich

1) Palavra de Vida publicada em Città Nuova, 1989/22, p. 9.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Palavra de Vida – março de 2013




“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7)

Jesus ensinava no templo quando foi procurado pelos escribas e fariseus que, trazendo-lhe uma mulher apanhada em adultério, disseram-lhe: “A lei de Moisés nos manda apedrejar mulheres como esta. E tu, o que dizes?” (Jo 8,5)
   Queriam, com isso, armar-lhe uma cilada. Se Jesus se manifestasse contrário à lapidação, poderiam acusá-lo de agir contra a lei, segundo a qual as testemunhas oculares do delito deveriam ser os primeiros a apedrejar a mulher adúltera, sendo seguidos pelo povo. Se, por outro lado, Jesus confirmasse a sentença de morte, teriam conseguido fazê-lo cair em contradição com sua doutrina sobre a misericórdia divina para com os pecadores.
Mas, Jesus, que estava abaixado e traçava sinais no chão com o dedo – demonstrando assim sua tranquilidade –, levantou-se e disse:

“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”.

Diante dessas palavras de Jesus os acusadores se retiraram um a um, começando pelos mais velhos. O Mestre, dirigindo-se à mulher, perguntou: “Onde estão os outros? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus disse: “Eu também não te condeno. Podes ir, e não voltes a pecar”. (Cf. Jo 8,10-11)

Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”.

Com essas palavras, Jesus evidentemente não se demonstra tolerante em relação ao mal, como nesse caso do adultério. As suas palavras: “Podes ir, e não voltes a pecar”, revelam claramente qual é o mandamento de Deus.
Jesus quer desmascarar a hipocrisia do homem que se arroga como juiz da irmã pecadora, não se reconhecendo também ele como pecador. Evidencia assim, com suas palavras, a conhecida sentença: “Não julgueis, e não sereis julgados; de fato, sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes.” (Mt 7,1-2)
Falando dessa forma, Jesus interpela também aquelas pessoas que condenam os outros de forma incondicional, sem levar em consideração o arrependimento que pode brotar no coração do culpado. E mostra claramente qual é o seu comportamento diante de quem fracassa: ter misericórdia. Quando todos se afastam da adúltera, “ficam apenas dois – diz Santo Agostinho, bispo de Hipona –: a miséria e a misericórdia” (cf. Comentário do Evangelho de João, 33,5).

“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”.

Como podemos colocar em prática essa Palavra?
Lembrando-nos, diante de qualquer irmão ou irmã, que também nós somos pecadores. Todos nós já pecamos e, mesmo quando nos parece não ter cometido faltas graves, devemos sempre nos lembrar que para nós é difícil avaliar o peso das circunstâncias que levaram outros a cair a tal ponto, a afastar-se tanto de Deus. Como nos teríamos comportado nós, se estivéssemos no lugar deles?
Também nós, vez por outra, já rompemos o liame de amor que devia nos unir a Deus, e não fomos fiéis a Ele.
Se Jesus, o único homem isento de pecado, não jogou a primeira pedra na adúltera, muito menos podemos nós fazê-lo, contra quem quer que seja.
Portanto: devemos ter misericórdia para com todos e reagir contra certos impulsos que nos levam a condenar sem dó nem piedade; devemos saber perdoar e esquecer. Não guardar no coração resíduos de julgamentos ou de ressentimentos, onde podem se abrigar a ira e o ódio que nos afastam dos irmãos; devemos ver cada um como se fosse uma pessoa nova.
Se, em lugar do juízo e da condenação, tivermos no coração o amor e a misericórdia para com todos, ajudaremos cada um a iniciar uma vida nova e lhe transmitiremos, em cada situação, a coragem necessária para recomeçar.
Chiara Lubich


Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em março de 1998

Palavra de Vida – março de 2013




“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7)

Jesus ensinava no templo quando foi procurado pelos escribas e fariseus que, trazendo-lhe uma mulher apanhada em adultério, disseram-lhe: “A lei de Moisés nos manda apedrejar mulheres como esta. E tu, o que dizes?” (Jo 8,5)
   Queriam, com isso, armar-lhe uma cilada. Se Jesus se manifestasse contrário à lapidação, poderiam acusá-lo de agir contra a lei, segundo a qual as testemunhas oculares do delito deveriam ser os primeiros a apedrejar a mulher adúltera, sendo seguidos pelo povo. Se, por outro lado, Jesus confirmasse a sentença de morte, teriam conseguido fazê-lo cair em contradição com sua doutrina sobre a misericórdia divina para com os pecadores.
Mas, Jesus, que estava abaixado e traçava sinais no chão com o dedo – demonstrando assim sua tranquilidade –, levantou-se e disse:

“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”.

Diante dessas palavras de Jesus os acusadores se retiraram um a um, começando pelos mais velhos. O Mestre, dirigindo-se à mulher, perguntou: “Onde estão os outros? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus disse: “Eu também não te condeno. Podes ir, e não voltes a pecar”. (Cf. Jo 8,10-11)

Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”.

Com essas palavras, Jesus evidentemente não se demonstra tolerante em relação ao mal, como nesse caso do adultério. As suas palavras: “Podes ir, e não voltes a pecar”, revelam claramente qual é o mandamento de Deus.
Jesus quer desmascarar a hipocrisia do homem que se arroga como juiz da irmã pecadora, não se reconhecendo também ele como pecador. Evidencia assim, com suas palavras, a conhecida sentença: “Não julgueis, e não sereis julgados; de fato, sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes.” (Mt 7,1-2)
Falando dessa forma, Jesus interpela também aquelas pessoas que condenam os outros de forma incondicional, sem levar em consideração o arrependimento que pode brotar no coração do culpado. E mostra claramente qual é o seu comportamento diante de quem fracassa: ter misericórdia. Quando todos se afastam da adúltera, “ficam apenas dois – diz Santo Agostinho, bispo de Hipona –: a miséria e a misericórdia” (cf. Comentário do Evangelho de João, 33,5).

“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”.

Como podemos colocar em prática essa Palavra?
Lembrando-nos, diante de qualquer irmão ou irmã, que também nós somos pecadores. Todos nós já pecamos e, mesmo quando nos parece não ter cometido faltas graves, devemos sempre nos lembrar que para nós é difícil avaliar o peso das circunstâncias que levaram outros a cair a tal ponto, a afastar-se tanto de Deus. Como nos teríamos comportado nós, se estivéssemos no lugar deles?
Também nós, vez por outra, já rompemos o liame de amor que devia nos unir a Deus, e não fomos fiéis a Ele.
Se Jesus, o único homem isento de pecado, não jogou a primeira pedra na adúltera, muito menos podemos nós fazê-lo, contra quem quer que seja.
Portanto: devemos ter misericórdia para com todos e reagir contra certos impulsos que nos levam a condenar sem dó nem piedade; devemos saber perdoar e esquecer. Não guardar no coração resíduos de julgamentos ou de ressentimentos, onde podem se abrigar a ira e o ódio que nos afastam dos irmãos; devemos ver cada um como se fosse uma pessoa nova.
Se, em lugar do juízo e da condenação, tivermos no coração o amor e a misericórdia para com todos, ajudaremos cada um a iniciar uma vida nova e lhe transmitiremos, em cada situação, a coragem necessária para recomeçar.
Chiara Lubich


Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em março de 1998